Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – O Estado de São Paulo, que produz cerca de metade da cana-de-açúcar do Brasil, deverá registrar na próxima semana calor intenso e tempo seco em importantes áreas produtoras, o que tende a prejudicar mais as produtividades, afirmou nesta quinta-feira a EarthDaily.
Em relatório antecipado à Reuters, a empresa especializada no monitoramento de áreas agrícolas com uso de satélite chamou a atenção ainda para riscos de incêndios em canaviais, devido às condições climáticas — no ano passado, o fogo foi um problema para algumas áreas de cana, incluindo lavouras da Raízen.
“Modelos climáticos apontam para a chegada de uma nova onda de calor, com temperaturas médias máximas em torno de 39 °C, o que tende a ampliar os prejuízos à produção de cana-de açúcar e elevar de forma significativa o risco de novos incêndios”, disse a EarthDaily.
O alerta vem em momento em que o centro-sul brasileiro lida com produtividades agrícolas mais baixas na safra 2025/26, devido a problemas climáticos na formação das lavouras em 2024.
No acumulado da safra 2025/26 até julho, os indicadores do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) mostram redução de 9,8% na produtividade média ante o ciclo passado, para 79,8 toneladas/hectare. Já o Açúcar Total Recuperável, indicador de qualidade da cana, está no acumulado em 125,2 kg ATR/t, queda de 3%.
Dados da EarthDaily apontaram ainda que a evolução do índice de vegetação (NDVI) nas macrorregiões de Ribeirão Preto e Araraquara nas últimas semanas “mostra uma deterioração evidente dos canaviais, ainda mais acentuada do que em 2024”.
A combinação de calor intenso e, principalmente, a seca está impactando de forma negativa o desenvolvimento das plantas, disse o analista de safra da EarthDaily, Felippe Reis.
Ele lembrou que na macrorregião de Araraquara o frio que predominou na primeira quinzena de agosto deu lugar à onda de calor, que atinge praticamente todo o Estado. Em algumas cidades da região, foram registrados focos de incêndio, com riscos às lavouras de cana-de-açúcar, acrescentou.
A EarthDaily afirmou também que tanto o modelo climático ECMWF quanto o GFS preveem temperaturas acima da média no curto prazo para a maior parte do país, com o GFS prevendo um calor ainda mais intenso, com temperaturas até 7°C acima da normalidade em algumas áreas, “provocando queda da umidade do solo em São Paulo”.
AGOSTO CHUVOSO AO SUL
Em outras áreas do centro-sul, como Paraná e de Mato Grosso do Sul, as chuvas registradas ao longo de agosto interromperam a colheita de cana em alguns dias, segundo a empresa que trabalha com dados de satélite.
No dia 4 de agosto, o volume ficou próximo de 25 milímetros, inviabilizando praticamente todas as operações de campo. Situação semelhante ocorreu na quarta-feira da semana passada e novamente no último domingo, ainda que com acumulados menores de precipitações.
“Com isso, o mês deve encerrar com pelo menos três dias de paralisação das atividades de colheita nessa região, reduzindo a oferta de cana disponível para moagem no período e podendo afetar o ritmo da produção de açúcar e etanol”, observou o analista.
A produção de açúcar do centro-sul do Brasil somou 3,6 milhões de toneladas na segunda quinzena de julho, queda de 0,8% na comparação com o mesmo período do ano passado, pressionada por uma redução na moagem de cana-de-açúcar, apesar de um aumento na destinação da matéria-prima para a produção do adoçante, segundo os últimos dados divulgados pela associação do setor, a Unica.
(Por Roberto Samora)