Vi, meio à distância, Irene, (fictício) puxando um espécie de carrinho com duas rodas, e uma caixa térmica de 60 litros em cima.
Ela parou no ponto de ônibus
em frente a um unidade de saúde, um local de grande movimentação, abriu a caixa, e começou, de maneira bem higiênica a entregar os salgados que vendia para os clientes que dela compravam.
Fiquei observado à cena com um interesse enorme, mas meio à distância.
Assim que o ponto de ônibus foi se esvaziando, cheguei, sentei, como se fosse aguardar o coletivo, enquanto ela contava o dinheiro, pedi uma coxinha, e comecei a conversar.
Irene, uma morena tipo sargentelli, não tão exuberante quanto, mas bonita.
Irene perdera o emprego na pandemia, durante a loucura do fecha tudo e fica em casa, que a “economia a gente vê depois”.
Ela trabalhava em uma lanchonete, e fazia os salgados que lá vendiam.
Fecharam tudo, mas esqueceram a economia pra depois, e ainda não se lembraram, Irene ficou desempregada.
Sozinha, sem saída, Irene começou a fazer os salgados, muito bons por sinal, e foi pra rua vender, e já vão completar 4 anos, ela disse emocionada.
Perguntei como estavam os negócios, ela sorriu, agradeceu a Deus, e disse que vai muito bem, que tá conseguindo sustentar a filha com dignidade, e ainda sobra para uma poupancinha.
Melhor que trabalhar de empregada, ela disse.
História de pessoas reais, honestas, de muita garra, e que não deixam a peteca cair.
Gente de princípios, assim são os brasileiros, assim são as Irenes.
Enquanto isso, criminosos de colarinho branco tem seus processos extintos por filigranas jurídicas, multas bilionárias são perdoadas por decisões judiciais nada republicanas, e a corrupção passa a ser institucional, aceita pelo establishment como algo absolutamente normal, menos por Irene, que tem orgulho, é empreendedora, e não aceita dinheiro sem origem, e sabe que jamais fará palestras em Portugal, ou em qualquer outro país do mundo.
Mas, Irene, não precisa falar nada, ela própria é o exemplo.
Irene, não tida em alta conta pela imprensa, sequer a conhecem, enquanto os perdoados de colarinho branco dão entrevistas como se fossem santos, as Irenes do Brasil trabalham quase 150 dias por ano para sustentar mordomias e penduricalhos imorais, a malversação do dinheiro público e a corrupção.
Enquanto os “perdoados” de colarinho branco continuam tidos em altíssima conta, as Irenes, que são exemplo, são esquecidas, e até humilhadas.
Está tudo errado.