Empresa capta R$ 100 milhões para financiar produtores com taxa de 8,5% mais variação cambial
Por Nayara Figueiredo — São Paulo
Luiz Alberto Roque, da Bauer do Brasil, vê mais pedidos para safrinha Foto: Bauer do Brasil/Divulgação
A fabricante de equipamentos de irrigação Bauer do Brasil, que faturou R$ 600 milhões no ano passado e projeta crescer em torno de 10% em 2025, vai anunciar hoje a emissão de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no valor de R$ 100 milhões. Como os juros altos têm tirado o apetite dos produtores para investimentos, a empresa decidiu levantar os recursos para oferecer crédito com taxas menores a agricultores para que eles possam comprar seus pivôs.
Segundo a companhia, a emissão de agora será a primeira de duas — a previsão é que a próxima ocorra em 2026. Os recebíveis têm lastro em dólar, taxa de juros de 8,5% ao ano mais variação cambial, carência de dois anos e prazo de até quatro anos para pagamento.
“A operação representa o primeiro CRA voltado exclusivamente para irrigação no Brasil”, afirma Luiz Alberto Roque, Co-CEO da Bauer do Brasil e principal executivo também da Irricontrol, plataforma de tecnologia para controle remoto de pivôs. A Bauer estruturou a operação em parceria com o Itaú.
Segundo Roque, os produtores que já têm alguma estrutura de irrigação nas lavouras demonstram interesse em investir mais. No entanto, eles esbarram em dificuldades como as elevadas taxas de juros do mercado e as incertezas políticas e de preço das commodities.
Ele argumenta que a irrigação reduz os riscos que extremos climáticos, como seca e calor intenso, representam para a produção agrícola. A expectativa é que o crédito esteja disponível para os produtores a partir de outubro. “A gente espera que, entre o fim deste ano e o início do ano que vem, haja mais pedidos de [sistemas de] irrigação para a próxima safrinha”, disse ele ao Valor.
Além de ter acesso a recursos com juros mais baixos — a Selic, a taxa básica, é hoje de 15% ao ano —, o produtor poderá tomar crédito com teto de R$ 6 milhões a R$ 8 milhões por CPF. O limite chega a ser mais do que o dobro do valor que os agricultores conseguem pelo programa federal Proirriga, que está em torno de R$ 3,5 milhões.
Para obter o financiamento, o produtor terá que dar um sinal que corresponda a entre 10% e 20% do valor do projeto. Roque acredita, porém, que, com o montante liberado, produtores de médio e grande porte conseguirão financiar o restante do equipamento.
“Outro diferencial é que temos a opção de conseguir alocar 100% da garantia sobre o próprio equipamento. Isso dispensa a necessidade de comprometer imóveis, o que facilita a aprovação do crédito”, avalia.
Roque defende que a estratégia de irrigação, em si, já é uma garantia, uma vez que o uso da ferramenta protege a lavoura de intempéries e torna mais previsível o volume que o agricultor de fato vai colher. “A irrigação aumenta a produtividade e garante que ele vai conseguir colher”, diz. Com isso, prossegue, o risco de inadimplência até diminui, embora a alavancagem do cliente vá ser determinante para a avaliação de crédito.
Segundo ele, a Bauer tem identificado novas oportunidades de demanda no oeste da Bahia e em Estados do Norte e Nordeste.
Globo Rural – Por Nayara Figueiredo