O Ministério das Relações Exteriores da China anunciou em Pequim, no início da manhã desta quarta-feira (7), noite de terça no Brasil, que o Vice-Primeiro-Ministro He Lifeng visitará a Suíça de 9 a 12 de maio para “conversas com o Secretário do Tesouro dos Estados Unidos”, Scott Bessent.
He Lifeng, informou o porta-voz do órgão, estará na condição de “líder chinês das relações econômicas e comerciais China-EUA”. Será o início das negociações sobre as tarifas impostas por Washington contra produtos chineses.
Nos EUA, tanto o Departamento do Tesouro como o escritório do Representante de Comércio, Jamieson Greer, informaram que eles estarão na Suíça para as conversas. O comunicado do Tesouro credita a Scott Bessent esta declaração: “Espero conversas produtivas enquanto trabalhamos para reequilibrar o sistema econômico internacional para melhor atender aos interesses dos EUA”.
O porta-voz do Ministério chinês havia afirmado, em entrevista coletiva na terça-feira (6), que “as portas estão abertas se os EUA quiserem negociar”. Também na terça, em depoimento no Congresso, negando indiretamente declarações dadas pelo Presidente Donald Trump, Scott Bessent havia respondido: “Nós ainda não nos engajamos em negociações, até o momento”.
Nesta quarta-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês afirmou: “Recentemente, altos funcionários americanos sinalizaram repetidamente ajustes nas medidas tarifárias e, por meio de diversos canais, transmitiram mensagens à China indicando o desejo de discutir tarifas e questões relacionadas”.
Acrescentou que “a China avaliou cuidadosamente esses sinais dos EUA e, após considerar plenamente as expectativas globais, os próprios interesses chineses e os apelos da indústria e dos consumidores americanos, decidiu concordar em se engajar com os EUA”.
Porém, “como diz o provérbio chinês: Ouça suas palavras e observe suas ações. Se os EUA desejam resolver seus problemas por meio de negociação, devem reconhecer os graves impactos negativos que as medidas tarifárias unilaterais tiveram sobre si mesmos e sobre o mundo, demonstrar intenção genuína de dialogar, corrigir suas práticas equivocadas e encontrar um meio-termo com a China”.
O anúncio chinês e os americanos informam que o encontro bilateral será a convite do governo suíço, com reuniões prévias dos enviados com a Presidente do país, Karin Ketter-Sutter. He Lifeng viaja em seguida à França, para copresidir o 10º Diálogo Econômico e Financeiro de Alto Nível China-França, de 12 a 16 de maio.
Produtos chineses importados pelos EUA são alvo atualmente de uma tarifa total de até 145%. O percentual é resultado da soma da taxa anunciada por Donald Trump no mês passado, de 125%, a uma tarifa de 20% aplicada no início deste ano. Em reação, também no mês passado, a China impôs uma tarifa de 125% sobre os produtos americanos.
Na terça-feira, o Presidente americano se encontrou presencialmente com o Primeiro-Ministro canadense, Mark Carney, pela primeira vez. A reunião ocorreu na Casa Branca, em Washington. Na ocasião, Donald Trump afirmou que nada que o Canadá dissesse poderia alterar o rumo das tarifas de 25% impostas ao país vizinho.
“É como as coisas são”, respondeu após ser questionado sobre a razão de não abrir espaço para mudar por ora as tarifas canadenses.
Donald Trump também propôs renegociar o acordo EUA-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês), que foi o principal tratado do seu primeiro mandato, incentivando o livre comércio entre as nações. Mark Carney propôs o mesmo, dizendo que o Presidente americano se aproveitou de brechas no trato para impor tarifas às duas nações vizinhas.
“Vou dizer uma palavra sobre o USMCA, se me permite. Ele é uma base para negociações mais amplas. Algumas partes dele vão precisar mudar. E parte da forma como o senhor conduziu essas tarifas se aproveitou de aspectos existentes do USMCA, então isso vai ter que mudar”, disse Mark Carney.
Mais tarde, o Primeiro-Ministro canadense foi questionado se confiaria num novo acordo comercial proposto pelos EUA já que Donald Trump não teria respeitado o atual. Ele disse que isso seria observado durante as negociações.
Donald Trump tem afirmado ao longo das últimas semanas que muitos países o procuraram em busca de acordos em torno das tarifas. Nesta terça-feira, ele mudou o tom que vinha adotando e reclamou das constantes perguntas sobre quantos e quais acordos ele anunciaria.
Folha de SP