Desemprego tem menor taxa da série histórica para terceiro trimestre
Indicador divulgado pelo IBGE é de 6,4% até setembro; número de pessoas ocupadas com trabalho renova recorde (103 milhões)
Por Leonardo Vieceli
A taxa de desemprego do Brasil recuou a 6,4% no terceiro trimestre deste ano, apontam dados divulgados nesta quinta (31) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Isso significa que a desocupação está no menor patamar para o intervalo até setembro na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.
Considerando os diferentes trimestres, uma taxa menor do que 6,4% só foi registrada nos três meses encerrados em dezembro de 2013: 6,3%. A série da Pnad tem 151 trimestres até o momento.
O desemprego estava em 6,9% no segundo trimestre de 2024, que serve de base de comparação na pesquisa.
O novo resultado (6,4%) ficou levemente abaixo da mediada das projeções do mercado financeiro, que era de 6,5%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 6,4% a 6,6%.
Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, disse que a queda da desocupação pode ser associada com o ambiente econômico no país.
Nesse sentido, a técnica avaliou que há um aquecimento da atividade via consumo. Beringuy também destacou que a melhora do emprego é vista em diferentes atividades, e não apenas em um grupo reduzido.
“Isso mostra um mercado de trabalho que não está observando melhorias isoladas em um trimestre, mas algo que vem sendo observado desde a segunda metade de 2022, e ganhando uma robustez, uma significância maior, a partir do ano de 2023.”
Número de desempregados recua a 7 milhões
O número de desempregados recuou a 7 milhões no terceiro trimestre. O contingente era de 7,5 milhões nos três meses anteriores. O novo contingente é o menor desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015, disse o IBGE.
A população desempregada reúne pessoas de 14 anos ou mais que estão sem trabalho e que seguem à procura de oportunidades. Quem não está buscando vagas, mesmo sem ter emprego, não faz parte desse grupo nas estatísticas oficiais.
A taxa de desemprego já havia marcado 6,6% no trimestre móvel encerrado em agosto. O IBGE, contudo, evita a comparação direta entre períodos com meses repetidos, como é o caso dos intervalos finalizados em agosto e setembro.
População com trabalho renova recorde
A população ocupada com algum tipo de trabalho (formal ou informal) chegou a 103 milhões no terceiro trimestre. Com o resultado, renovou o recorde dos diferentes intervalos da série histórica.
O contingente aumentou 1,2% (mais 1,2 milhão) frente ao trimestre imediatamente anterior e 3,2% (mais 3,2 milhões) na comparação com um ano antes.
Enquanto isso, a população fora da força, que não tem emprego nem busca trabalho, foi estimada em 66,4 milhões até setembro de 2024.
O contingente recuou 0,4% (-293 mil) frente ao trimestre anterior e diminuiu 0,6% em um ano (-413 mil).
A população fora da força reúne, por exemplo, o grupo dos desalentados, que desistiu de procurar trabalho por achar que não terá vez.
No terceiro trimestre, a população desalentada foi de 3,1 milhões. É a menor desde o intervalo encerrado em maio de 2016 (3 milhões), disse o IBGE.
Renda média fica estável
A renda média habitual do trabalho da população ocupada foi de R$ 3.227 por mês no terceiro trimestre. Isso representa uma variação negativa de 0,4% ante o segundo trimestre (R$ 3.239).
O IBGE considera o resultado dentro da margem de estabilidade da pesquisa. Segundo Beringuy, ainda não é possível dizer que o rendimento chegou ao teto. “Precisamos esperar novos resultados”, afirmou.
De acordo com a pesquisadora, um dos fatores que podem explicar a estabilidade é a incorporação de trabalhadores informais ao mercado. Como esse grupo costuma ganhar menos, pode ter segurado a média.
Na comparação com o terceiro trimestre de 2023 (R$ 3.112), a renda seguiu em alta no país. O crescimento foi de 3,7% em termos reais, ou seja, já considerando o ajuste pela inflação.
Após a pandemia, o mercado de trabalho mostrou retomada no Brasil. O desempenho aquecido favorece o PIB (Produto Interno Bruto), mas traz alerta para um possível impacto na inflação.
Conforme economistas, a sequência de avanços do emprego tende a beneficiar neste ano o consumo das famílias, considerado motor da atividade econômica.
O possível efeito colateral da procura por bens e serviços em alta, de forma contínua, é a pressão sobre os preços, o que desafiaria o processo de desinflação.
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