Encontro pode ter contribuído para que o líder americano considerasse reabrir as mesas de negociação com o Brasil
Conhecido pela proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empresário Joesley Batista, do grupo J&F, foi um dos executivos brasileiros que conseguiu ter acesso direto ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nas últimas semanas. A conversa aconteceu na Casa Braca, no começo de setembro, e pode ter contribuído para que o líder americano considerasse reabrir as mesas de negociação com o Brasil, alvo de um tarifaço que atingiu em cheio as carnes brasileiras, item que é o carro-chefe justamente do grupo J&F.
O Valor apurou que a reunião entre Joesley Batista e Trump não tinha como objetivo discutir especificamente a questão da sobretaxa de 50% aplicada sobre a proteína animal brasileira. Pelo contrário, tratava-se inicialmente de uma agenda institucional em função do tamanho e importância da J&F nos Estados Unidos. O grupo liderado pelo empresário brasileiro possui aproximadamente 75 mil funcionários em território americano e tem 50% do seu faturamento atrelado ao país.
Por conta desse pano de fundo, a conversa entre Joesley e Trump começou centrada nos investimentos que a companhia possui nos Estados Unidos. Apesar disso, o empresário brasileiro aproveitou a reunião para mencionar a questão dos impactos do tarifaço nos produtos brasileiros e também nos preços do mercado consumidor americano.
De acordo com interlocutores a par da conversa, Joesley contou para o presidente americano que a tarifa de 50% vai afetar diretamente o preço dos hambúrgueres vendidos nos EUA. O líder da J&F mencionou, por exemplo, que sem a proteína animal brasileira, os mercados americanos terão que fazer o processamento de carnes mais caras para poder produzir os tais hambúrgueres, o que tem potencial de encarecer toda essa cadeia de consumo americano.
Mais do que isso, Joesley Batista teria mencionado para o líder republicano, segundo fontes, que haverá consequências parecidas no segmento de café e suco de laranja, outros dois produtos brasileiros que são exportados para os Estados Unidos em volume significativo.
Apesar de todo esse movimento, interlocutores próximos aos irmãos Joesley e Wesley Batista negam que a reunião da J&F tenha representado fator derradeiro para uma mudança de postura de Trump. Isso porque, após o final do encontro com o americano, não teria ficado claro nem mesmo para os dirigentes da companhia se o governo dos Estados Unidos iria reconsiderar ou não as sanções comerciais contra o Brasil — o que, de fato, ainda não aconteceu.
Além disso, o encontro na Casa Branca aconteceu há cerca três semanas e, de lá para cá, o Departamento de Estado anunciou novas sanções contra autoridades brasileiras e o Supremo Tribunal Federal.
Nos bastidores, o Itamaraty também rechaça a narrativa de que uma única empresa ou pessoa foi responsável por convencer, sozinha, o chefe do governo americano. Na visão de integrantes do Ministério das Relações Exteriores, o que houve foi um esforço do governo brasileiro, potencializado por diversas “vozes da iniciativa privada”, para mostrar à Casa Branca as consequências comerciais do tarifaço.
A tese de que a J&F foi responsável por provocar Trump a fazer acenos ao Brasil ganhou força depois que o presidente dos Estados Unidos elogiou Lula, durante a abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, e acenou para uma possível reunião entre os dois chefes de Estado. A agenda ainda não foi marcada, mas a tendência é que ocorra na semana que vem.
Valor