A confiança do consumidor registrou em janeiro a maior queda em mais de três anos. A reação foi influenciada pelo cenário atual de maior pressão inflacionária, principalmente nos alimentos. A análise é de Anna Carolina Gouveia, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ela fez as observações ao comentar o recuo de 5,10 pontos no Índice de Confiança do Consumidor (ICC), para 86,2 pontos, no primeiro mês do ano. Foi a mais forte queda desde setembro de 2021, quando o recuo foi de 6,6 pontos.
A especialista afirmou que em janeiro, o humor do consumidor foi afetado principalmente pelas expectativas menos favoráveis em relação ao futuro. Esse menor ímpeto de consumo, segundo a economista, ocorreu em um cenário em que as respostas em relação ao momento presente mostraram também cenário negativo.
Isso é perceptível na evolução dos dois sub indicadores componentes do ICC. Em janeiro, o Índice de Situação Atual (ISA) caiu 3,30 pontos, para 79,40 pontos. Mas o Índice de Expectativas (IE) caiu de forma mais intensa, com retração de 6 pontos, para 91,60 pontos, no mês.
“Todos os indicadores recuaram e todos recuaram pela segunda vez consecutiva”, disse a economista ao lembrar que o ISA e o IE também mostraram recuo, em dezembro do ano passado, embora mais fracos do que os registrados em janeiro, respectivamente de 1,30 pontos e de 4,30 pontos. “Mas a queda de maior magnitude, em todas as respostas componentes do ICC, foi no quesito ‘situação financeira futura’”, disse ela. A economista informou que o recuo, nesse tópico, foi de 6,70 pontos, em janeiro desse ano.
Um aspecto que colaborou para maior pessimismo quanto ao orçamento futuro é o avanço da inflação no começo de 2025, reiterou Anna Carolina Gouveia. “Creio que esse desempenho está um pouco atrelado a questão da inflação, em serviços e possivelmente em alimentos também. E também pela manutenção e continuidade de juros elevados”, resumiu.
A economista indicou que ambos os aspectos, inflação elevada mais os juros altos, inibem o consumo. Isso em um quadro no qual as famílias ainda têm que lidar com manutenção de patamares, ainda elevados, de inadimplência e de endividamento.
“[Com o aumento da inflação] o poder de compra das pessoas diminui. E os consumidores de menor poder aquisitivo já têm, geralmente, aquela renda definida para gastar, e têm que ter alguma possibilidade de renda ali para quitar dívida [no caso dos endividados]”, indicou.
Ao ser questionada se a confiança do consumidor poderia continuar a cair, no entanto, a pesquisadora foi cautelosa. A economista notou que o impulso maior da inflação dos alimentos, nesse começo de ano, tem sido visto com atenção pelo governo, recentemente.
“Acho que vai depender muito dos próximos passos assim do governo, se vai ter algum programa que possa ajudar a segurar a inflação”, disse.
Valor