O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará sua reestreia na Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira, 19 de setembro, após 14 anos. Conforme a tradição, ele será o primeiro a discursar em Nova York. No entanto, desta vez, seu discurso ocorrerá em um plenário com pouca presença, devido às tensões entre o Ocidente e os países emergentes, além de uma série de declarações que têm gerado dúvidas sobre a diplomacia do Brasil, especialmente em relação à China e Rússia.
Com líderes de importantes países emergentes, como Vladimir Putin, Xi Jinping e Narendra Modi, ausentes, Lula provavelmente abordará tópicos semelhantes aos de suas intervenções anteriores na ONU. Isso inclui a defesa da reforma do Conselho de Segurança e a promoção de um pacto de desenvolvimento para os países do Sul Global, bem como apelos para que as nações ricas financiem a luta contra a mudança climática. Além disso, Lula enfrentará o desafio de evitar fazer novas declarações que possam ser interpretadas como simpáticas à Rússia no contexto da guerra na Ucrânia.
O problema para Lula é que a política externa do Brasil hoje requer um equilíbrio muito mais complexo do que em seus mandatos anteriores. Com a ascensão da China e Rússia como rivais dos Estados Unidos e da Europa, em meio a uma rivalidade entre democracias e regimes autoritários, tornou-se mais difícil para o Brasil manter uma posição neutra diante de interesses conflitantes. Isso tem impactado até mesmo a relevância da ONU como fórum de decisões globais, com mecanismos multilaterais como o G-7, G-20 e Brics sendo considerados mais abrangentes do que a própria ONU.
Lula enfrentou dificuldades em manter uma posição equilibrada entre os dois polos de poder globais. Suas declarações recentes, como a sugestão de que Vladimir Putin poderia visitar o Brasil sem medo de ser preso e a posterior crítica ao Tribunal Penal Internacional, prejudicaram a imagem do Brasil como defensor de mecanismos internacionais.
Para tentar reconstruir relações com a Ucrânia, Lula deve se encontrar com o presidente Volodmir Zelenski na quarta-feira, após desentendimentos nos últimos meses. Isso é importante, especialmente considerando que Zelenski se mostrou desconfortável com as declarações de Lula anteriormente. Carlos Gustavo Poggio, professor de ciência política, sugere que Lula deveria ser mais cuidadoso em relação à guerra na Ucrânia, considerando seu papel e sua influência como ex-presidente.
No geral, Lula enfrenta o desafio de equilibrar os interesses do Brasil em um cenário internacional cada vez mais complexo e competitivo, enquanto busca manter relações diplomáticas sólidas com diferentes atores globais.
Fonte: Estadão