Os preços do milho nos Estados Unidos parecem estar se recuperando antes da próxima temporada de plantio, depois de terem caído no ano passado para as menores cotações desde a pandemia do Covid-19. No Meio-Oeste do país, muitos produtores tiveram prejuízo com suas lavouras de milho em 2024, o que resultou em queda da renda agrícola, apesar de produção e produtividade quase recordes de milho e soja.
Segundo estimativas divulgadas por universidades e grupos comerciais, os agricultores devem ter prejuízo novamente com o milho em 2025. No entanto, com a tendência de alta nos contratos futuros do grão, os agricultores estão mais próximos de retornar à lucratividade. “Há um suporte para os preços do milho”, disse o estrategista global de grãos e oleaginosas do Rabobank, Stephen Nicholson.
Os contratos futuros do milho na Bolsa de Chicago (CBOT) subiram cerca de US$ 0,30 por bushel desde o início do mês, ou mais de 6%, segundo dados da FactSet. O vencimento março fechou aos US$ 4,84¾ o bushel nesta quarta-feira, depois de terem registrado na sessão anterior a maior cotação desde o fim de 2023.
Entretanto, tarifas impostas pelo governo de Donald Trump podem rapidamente desacelerar o ritmo das exportações. Na terça-feira, o presidente norte-americano afirmou que pretende taxar em 10% os produtos chineses, caso o país não ajude em iniciativas como o fim da guerra Rússia-Ucrânia e o combate ao tráfico de fentanil nos EUA.
Os preços do milho iniciaram a recuperação recente depois que o USDA reduziu a sua estimativa da produção para 2024 em seu relatório de oferta e demanda de janeiro. Uma onda de calor no fim do ciclo de plantio afetou a produção final, reduzindo o que seria uma colheita recorde.
A expectativa é de que agricultores dos EUA plantem uma área semelhante de milho nesta primavera, na esperança de que a melhora da demanda externa aumente a rentabilidade. No acumulado do ano comercial 2024/25 até 16 de janeiro, 19.2 milhões de toneladas de milho foram exportadas, aumento de 30% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Donald Trump também ameaçou impor tarifas de 25% sobre produtos do México e do Canadá em 1º de fevereiro.
O México, maior comprador de milho dos EUA, importou 22.6 milhões de toneladas no ano comercial 2023/24, segundo o USDA. O Canadá, embora também seja um comprador importante, importou apenas uma fração disso, 1.1 milhão de toneladas. A China, embora compre mais soja do que milho dos EUA, importou 2.8 milhões de toneladas de milho dos EUA na última temporada.
Analistas debatem se o ritmo acelerado de vendas de milho nas últimas semanas foi motivado por um consumo maior dos países importadores ou se foi um movimento para estocar o grão antes da posse de Donald Trump. Se importadores apenas anteciparam compras, os contratos futuros podem devolver seus ganhos nas próximas semanas, dizem especialistas.
As tarifas podem evidenciar uma dura realidade: talvez não haja fontes alternativas de milho suficientes para atender à demanda global. “O mundo pode não gostar das tarifas de Trump, mas a realidade é que não há para onde correr”, disse Stephen Nicholson.
Fundos de investimento parecem concordar. Segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), as expectativas da alta dos preços de milho na CBOT estão no maior nível desde maio de 2022. A CFTC informou na sexta-feira que a posição líquida comprada dos fundos era de quase 300.000 contratos.
A atenção agora está voltada para o clima no Brasil e na Argentina, que competem com os grãos dos EUA no mercado global. No Brasil, os agricultores estão plantando a safrinha, a maior safra de milho do País, normalmente entre janeiro e fevereiro. No entanto, algumas regiões brasileiras e argentinas receberam apenas uma fração do volume normal de chuvas no último mês. “Temos pouca margem para perdas significativas devido ao clima na Argentina, à safra de inverno do Brasil ou ao verão no Meio-Oeste americano”, disse o economista-chefe de commodities do StoneX Group, Arlan Suderman.
Dow Jones Newswires
