Ferramenta reúne dados detalhados de relevo, clima e solos, e exclui áreas protegidas, como terras indígenas, e regiões ainda não desmatadas da Amazônia
Por Marcos Fantin
— São Paulo – GloboRural
Mapa gratuito será lançado oficialmente nesta quarta-feira, 28 de maio — Foto: Embrapa Solos
A Embrapa Solos e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciaram o lançamento de uma nova versão do ‘Mapa de Aptidão Agrícola das Terras do Brasil’. A ferramenta, gratuita e disponível online, identifica as regiões com maior ou menor potencial para diferentes usos agrícolas, como lavouras, pastagens e florestas plantadas, conforme as condições naturais do solo e da paisagem.
O mapa considera três níveis de manejo (baixo, médio e alto) e pode ser utilizado para embasar políticas públicas, planejamento territorial, zoneamento agrícola e decisões estratégicas de produtores rurais.
Os estudos, que resultaram na classificação da aptidão agrícola em todas as regiões do país foram desenvolvidos por pesquisadores da Embrapa Solos e do IBGE, e contaram com aporte financeiro do Ministério da Agricultura e Pecuária.
A ferramenta reúne dados detalhados de relevo, clima e solos, excluindo áreas protegidas, como terras indígenas, e regiões ainda não desmatadas da Amazônia, respeitando os limites ambientais vigentes.
A nova versão do mapa possui resolução aprimorada e a possibilidade de visualizar a aptidão em diferentes escalas, desde o território nacional até por municípios. “Esse é o mapa que diz o que dá para fazer com a terra sem precisar modificá-la. Ele mostra o potencial intrínseco, com base em fatores naturais”, explica Roberto Teixeira, pesquisador da Embrapa Solos.
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Entre as regiões com maior aptidão agrícola estão o Centro-Oeste e o Matopiba (fronteira agrícola entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que apresentam grande proporção de áreas classificadas como de “alta” ou “muito alta” aptidão para lavouras sob manejo tecnificado. Já áreas com relevo acidentado ou solos muito rasos, comuns em partes da Mata Atlântica ou no semiárido do Nordeste, aparecem com menor potencial.
O mapa pode ser acessado pelo portal GeoInfo da Embrapa. Segundo a Embrapa, a versão disponível apresentada deve passar por mais uma etapa de revisão e aprimoramento para complementação das informações.
Metodologia
As terras foram avaliadas de acordo com as possibilidades de aproveitamento levando em conta suas qualidades naturais e a viabilidade de melhoramento das condições agrícolas.
Para as diferentes classes de solo, foram analisados cinco fatores limitantes ao uso agrícola das terras: deficiência de fertilidade; deficiência de água; deficiência de oxigênio (ou excesso de água); suscetibilidade à erosão e impedimentos à mecanização. No caso da avaliação da aptidão para silvicultura foi considerado também o fator limitante “impedimentos ao enraizamento”.
Os pesquisadores explicam que, para cada um desses fatores, foram atribuídos graus de limitação: nulo, ligeiro, moderado, forte, muito forte, extremamente forte e intermediários. Eles expressam o grau de desvio das terras em relação a uma situação ideal.
Levando em consideração as diferentes condições socioeconômicas ao alcance do agricultor, foram considerados na avaliação três níveis de manejo (A, B e C), que representam diferentes níveis tecnológicos.
O nível A contempla apenas técnicas simples e rudimentares; o nível engloba tecnologias intermediárias adequadas aos produtores de média capacidade de investimento; e o nível C correspondente à agricultura moderna altamente tecnificada, com aplicação intensiva de capital e tecnologia.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Amaury de Carvalho Filho, a diferenciação permite identificar o potencial de uso das terras desde pequenos produtores rurais até a agricultura em escala empresarial.
“Assim, por exemplo, uma determinada área com condições topográficas ou de solo desfavoráveis ao emprego de máquinas e implementos agrícolas pode não ser apropriada para a implantação de lavouras altamente tecnificadas, que requerem grande escala de produção, mas em contrapartida pode apresentar boas condições para o uso com agricultura familiar, em nível tecnológico mais baixo, possibilitando boa rentabilidade com modesto emprego de capital”, explica.
Alocação de recursos
Os cientistas destacam que as informações do mapa podem ser usadas para fins de direcionamento de atividades agropecuárias e alocação de recursos e regionalização de incentivos.
“O mapeamento pode ser utilizado na avaliação do potencial de expansão da produção agrícola em nível municipal ou de microrregiões geográficas, assim como para direcionamento e adequação de projetos de extensão rural ou, ainda, para identificação de áreas preferenciais para preservação e formação de parques”, salienta o pesquisador da Embrapa José Francisco Lumbreras.
Dois programas de estado que devem ser diretamente beneficiados são o Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos do Brasil (PronaSolos) e o Programa Nacional de Zoneamento de Risco Climático (Zarc).
Lançamento
A apresentação oficial do novo mapa de aptidão agrícola das terras do Brasil será realizada na solenidade de 50 anos da Embrapa Solos, nesta quarta-feira (28/5), no Teatro Ecovilla Ri Happy, no Rio de Janeiro.
Por GloboRural – https://globorural.globo.com/tecnologia-e-inovacao/noticia/2025/05/novo-mapa-da-embrapa-mostra-onde-ha-maior-potencial-para-agricultura-no-brasil.ghtml