Trump denunciou na ONU práticas de repressão, censura e corrupção judicial exportadas do Brasil e direcionadas a cidadãos americanos – uma acusação sem precedentes contra um presidente brasileiro no cenário internacional. O gesto foi calculado, ao mesmo tempo em que expõe Lula como protagonista de perseguições políticas, Trump o convida a negociar. O petista fica encurralado, sob a crítica global e coagido a se sentar com Washington em condições impostas pelos EUA. O discurso de Donald Trump na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, 23 de setembro, foi mais do que retórico; foi um movimento calculado de pressão sobre Lula da Silva. Trump elogiou o petista, chamou-o de “um homem muito agradável” e disse ter sentido “excelente química” no breve encontro que tiveram em Nova York. Mas, em seguida, deixou claro que a aproximação só prosperará se o Brasil decidir “vir junto com os Estados Unidos”. Ao anunciar publicamente um encontro para a próxima semana – gesto que deixou Janja e o Itamaraty visivelmente desconcertados – Trump esvaziou qualquer margem de manobra de Lula. Recusar a reunião seria assumir fragilidade diante da opinião pública internacional; aceitar, por sua vez, o obriga a encarar uma pauta indigesta que vai de tarifas comerciais e denúncias de censura até a exigência de um alinhamento geopolítico claro ao lado dos Estados Unidos. A cordialidade de Trump abre espaço para a diplomacia, mas a cobrança será inevitável na mesa de negociações. Lula claramente não esperava por esse anúncio em plena tribuna da ONU – a reação desconcertada de seu grupo deixou isso exposto diante do mundo. Agora, sob o olhar atento do mundo, não há mais disfarces possíveis – Lula está nu.
Karina Michelin – X