A moeda fraca é sintoma de uma economia em desacertos e o Brasil pode passar por nova rodada de desvalorização cambial se não evitar a “pegadinha” que ocorreu dez anos atrás no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, segundo Andre Bannwart, executivo-chefe da Evolution Asset Management, do UBS.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito com o mandato de entregar um Estado grande, além da distribuição direta de renda, disse ele ao participar de evento do UBS BB. Assim, a dívida que cresce a um ritmo de 5% ao ano, vai chegar a 80% do PIB. Com a carga tributária acima dos pares da América Latina e poupança menor, o risco é repetir a disfuncionalidade dos juros que vivenciou em 2014 porque a economia crescia acima do seu potencial.
“Qual o problema de gastar? É a geração de riqueza do país. O país consegue gerar, em média, 14% do PIB de fluxo de caixa, de riqueza. O governo em 2024 consumiu 9%, este ano vai consumir 10%. O nível de poupança em 5% do PIB, de geração de caixa nova, é baixo ou é alto? O Chile é 20% e o México é 25%. Então são poupanças extremamente baixas. O que quero dizer com poupanças extremamente baixas? Risco de descontinuidade no juros.”
Para ilustrar o que significa isso, o gestor fez uma comparação:
“Se você tiver R$ 300,00 na carteira, eu te pedir R$ 100,00 emprestado a 10%, você me conhecendo, eu acho que você me emprestaria. Se eu pedisse os outros R$ 100,00 e falasse que pago 15%, eu também acho que você me emprestaria. Se eu te pedisse os últimos R$ 100,00 e falasse que pago 20%, eu acho que você não me daria. Isso é descontinuidade no juros. Isso é o que a gente viu há 10 anos no governo Dilma. Com poupança muito amassada, o governo levantou a mão e falou, ‘quero gastar mais um pouquinho’. Esses riscos aparecem e desta vez é um ‘trap’, uma pegadinha parecida com 2014.”
Se o Brasil desacelerar e o governo não mexer nos gastos, que já são engessados por si, a situação fiscal se deteriora mais rapidamente.
“A moeda é a cara do país, sempre foi. Então, a moeda robusta é um país acertado, a moeda fraca é um país em desacerto. Se o país desacelerar, a dívida aumenta mais rápido. A gente pode incorrer uma nova rodada de desvalorização cambial. Não estou falando que é para amanhã, é o risco que a gente tem.”
Dez anos atrás foi o que aconteceu, continuou Andre Bannwart. O fiscal piorou e houve uma grande desvalorização cambial. Mesmo com a economia desacelerando, o PIB negativo, no “net” sobrou inflação porque o câmbio andou muito mais rápido do que a economia desacelerou.
“Esse é o pior risco. Quando isso acontece, vem um ajuste. O gerente, o pivô, perde o mandato. Perde o mandato de continuar fazendo a mesma coisa, não precisa mudar o mandatário para mudar as coisas, mas o direcionamento tem que mudar.”
Valor