Retomada do plantio nas terras alagadas é essencial para que a distribuição nacional de alimentos não seja reduzida a longo prazo
- Estado com importante participação na produção agrícola do país, o Rio Grande do Sul terá que recuperar 3,2 milhões de hectares de cultivo atingidos pelos temporais recentes, estima a Secretaria Estadual da Agricultura, com base em imagens de satélite. O setor já contabiliza prejuízos de R$ 3,1 bilhões, de acordo com dados da Confederação Nacional de Municípios. A retomada do plantio nas terras alagadas é essencial para que a distribuição nacional de alimentos não seja reduzida a longo prazo. Os gaúchos são os principais produtores de arroz do Brasil, responsáveis por 70% da safra, e ocupam a quarta posição na plantação de soja.
A solução encontrada pelo governo Lula, de importar arroz, enfrenta resistência no setor e na oposição. O produto será vendido ao consumidor final com preço tabelado e com a logomarca do governo federal. Líder da bancada ruralista no Congresso, o deputado Pedro Lupion (PP-PR) disse, em entrevista ao GLOBO na sexta-feira, que a iniciativa vai prejudicar os produtores e criticou o uso da logo em ano eleitoral. Na quarta-feira, a Justiça Federal suspendeu o leilão do governo federal para a importação de arroz.
Segundo o relatório de perdas divulgado pelo governo estadual na terça-feira, mais de 206 mil propriedades rurais foram afetadas pelas enchentes, com prejuízos em produção e infraestrutura. O relatório, feito pela Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar), abrange o período de 30 de abril até 24 de maio.
As principais perdas ocorreram na produção de feijão, milho e soja, com 48 mil produtores afetados. Mais de 19 mil famílias tiveram algum prejuízo com instalações, tipo casas, galpões, armazéns, silos, estufas e aviários. Na agroindústria, os primeiros dados mensuram prejuízos para cerca de 200 empreendimentos familiares.
O relatório indica que a produção de soja tem perdas de mais de 2,7 milhões de toneladas, como prejuízo estimado em R$ 1,5 bilhão. Em março, antes das chuvas, a perspectiva da Emater calculou que, entre 2023 e 2024, o estado teria a maior safra de soja desde 1970, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou o levantamento oficial da produção.
Expectativa frustrada
Havia a expectativa de que o estado atingiria uma produção de aproximadamente 22,2 milhões de toneladas; após as chuvas, a nova previsão é de 19,5 milhões de toneladas.
- Em resposta ao STF: Gestão de Eduardo Leite defende construção de barragens em Áreas de Preservação Permanente
— A perda na produção da soja se dá pelo comprometimento da qualidade dos grãos e pela dificuldade na colheita — afirma Luis Humberto Villwock, engenheiro-agrônomo e professor da Escola de Negócios da PUCRS.
Na avaliação do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), as chuvas preocupam porque o excesso de umidade tende a elevar a acidez do óleo de soja, o que pode reduzir a oferta do produto.
O abastecimento de hortaliças também foi muito afetado no estado, assim como a pecuária. Neste setor, as perdas animais afetaram mais de 3.700 criadores. Mais de um milhão de aves adultas morreram. E a perda de pastagens, tanto em campo nativo quanto em áreas de cultivo de plantas típicas do inverno na região, deve impactar a produção de leite e carne nos próximos meses.¨
Impacto no solo
No fim do mês passado, o governo federal anunciou um pacote de medidas de apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul. Entre as ações estão novas linhas de financiamento para empresas e ampliação do crédito rural. Pequenos e médios agricultores passam a ter autorização para aporte adicional de R$ 600 milhões no Fundo de Garantia de Operações (FGO).
O relatório indica que a produção de soja tem perdas de mais de 2,7 milhões de toneladas, como prejuízo estimado em R$ 1,5 bilhão. Em março, antes das chuvas, a perspectiva da Emater calculou que, entre 2023 e 2024, o estado teria a maior safra de soja desde 1970, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou o levantamento oficial da produção.
Expectativa frustrada
Havia a expectativa de que o estado atingiria uma produção de aproximadamente 22,2 milhões de toneladas; após as chuvas, a nova previsão é de 19,5 milhões de toneladas.
- Em resposta ao STF: Gestão de Eduardo Leite defende construção de barragens em Áreas de Preservação Permanente
— A perda na produção da soja se dá pelo comprometimento da qualidade dos grãos e pela dificuldade na colheita — afirma Luis Humberto Villwock, engenheiro-agrônomo e professor da Escola de Negócios da PUCRS.
Na avaliação do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), as chuvas preocupam porque o excesso de umidade tende a elevar a acidez do óleo de soja, o que pode reduzir a oferta do produto.
O abastecimento de hortaliças também foi muito afetado no estado, assim como a pecuária. Neste setor, as perdas animais afetaram mais de 3.700 criadores. Mais de um milhão de aves adultas morreram. E a perda de pastagens, tanto em campo nativo quanto em áreas de cultivo de plantas típicas do inverno na região, deve impactar a produção de leite e carne nos próximos meses.¨
Impacto no solo
No fim do mês passado, o governo federal anunciou um pacote de medidas de apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul. Entre as ações estão novas linhas de financiamento para empresas e ampliação do crédito rural. Pequenos e médios agricultores passam a ter autorização para aporte adicional de R$ 600 milhões no Fundo de Garantia de Operações (FGO).
O objetivo do governo é viabilizar o acesso ao crédito aos produtores que não têm condições de manter suas operações pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp).
Para Sergio Schneider, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) especializado em sociologia rural e desenvolvimento do setor, será preciso realizar um diagnóstico dos tipos de solo afetados e traçar um plano para recuperá-los.
— Uma das técnicas mais importante é a recomposição da cobertura vegetal, para que se possa incorporar novamente matéria orgânica no solo. Sabemos que vai demorar bastante para recuperarmos a fertilidade dos solos mais afetados — aponta o pesquisador.
Schneider explica que, com a chegada do inverno no fim deste mês, grande parte dos agricultores passa a plantar aveia e ervilhaca, entre outras culturas, que auxiliam na proteção do solo e na manutenção da matéria orgânica na terra. Essa prática é importante para que, no início da primavera, entre setembro e outubro, outros plantios, como o da soja, sejam retomados.
Doutor em Administração com especialização em Agronegócio, Marcos Fava Neves aponta que o impacto das chuvas na fertilidade do solo vai variar dependendo da altura em que está o terreno. O especialista, sócio-fundador e professor da Harven Agribusiness School, explica a enxurrada nas áreas altas arrastou boa parte do solo e de seus fertilizantes para as partes mais baixas, gerando erosão. Portanto, os terrenos não inundados que receberam esses nutrientes podem ficar mais férteis no futuro.
O GLOBO