Artigo – Combate aos cupins

Era uma vez em um reino distante, talvez não tão distante assim, bem próximo até, pode se dizer.
Era um reino que vivia da exploração da madeira, habitado basicamente, quase que totalmente por lenhadores, e as casas eram todas de madeira, obviamente, é claro.
E a madeira atrai muitos cupins, que são vorazes, e era um problema sério, pois eles, os cupins, iam pouco a pouco comendo tudo que viam pela frente, e os habitantes se viam obrigados a combatê-los, mas os métodos de combate estavam nas mãos de poucos e importantes figuras do reino, gente proeminente, da alta, do establishment, que cobrava o que queria dos pobres habitantes desse reino distante, e assim, o povo era refém dos poderosos que comandavam os lucrativos negócios de combate aos vorazes insetos da família termitidae.
E assim, o reino caminhava, com o
povo sofrendo para combater os cupins, e a alta sociedade, o establishment, enriquecia fingindo que combatia os cupins.
As licitações para contratar empresas de combate aos cupins, era aquela farra, e eram sempre os mesmos, de vez em quando mudavam o nome das empresas, para dar aquele ar de seriedade, para parecer que eles se importavam com a lisura nos contratos, e ainda diziam que o dinheiro dos impostos tinha que ser bem administrado e a transparência era um dever de estado.
É, diziam.
Mas com toda essa honestidade do establishment, dos respeitadíssimos funcionários públicos, os cupins continuavam a com a voracidade que lhe eram características, comendo tudo que era tipo de celulose, inclusive o dinheiro, o papel moeda.
Mas eis que um dia, nesse reino talvez não muito distante, um lenhador mais observador, viu que os cupins rejeitavam uma determinada planta, então, o simples e honesto lenhador, retirou dessa planta uma gosma pegajosa, testou em casa, e viu que os cupins foram desaparecendo aos poucos.
Milagre, disse o lenhador.
Como o lenhador era muito honesto, foi logo contar aos maiorais do reino, e chagando lá todo satisfeito e contente por ter encontrado uma solução para melhorar a vida da população, foi recebido pela nata do setor público que cuidava das licitações de combate ao cupins, que perceberam que iriam perder a fonte de receitas se os cupins fossem combatidos com a eficiência que a nova gosma prometia.
Os altíssimos homens do sistema, em reunião, decidiram que tinham que dar cabo do lenhador que representava um perigo para as licitações de combate aos cupins.
E assim fizeram.
Acusaram o coitado do lenhador cheio boas intenções, de sedição e de atentar contra ordem pública e democrática, julgaram, condenaram sem direito de defesa, e mandaram o coitado  apodrecer na masmorra.
E assim, naquele reino não muito distante, os cupins continuaram com a voracidade de sempre, e os maiorais do reino, também com voracidade de sempre, continuaram com suas licitações, enriquecendo cada vez mais, enquanto o povo sofria, e sofria, e sofria muito.
A forma para combater os cupins foi encontrada, mas para combater os caras de pau que comandam as licitações, até hoje ninguém sabe.