SÃO PAULO (Reuters) – O dólar à vista emplacou nesta terça-feira a segunda sessão consecutiva de alta ante o real, após a inflação medida pelo IGP-M elevar a percepção de que a taxa básica Selic poderá começar a cair, enquanto nos Estados Unidos crescem as apostas de que os juros seguirão elevados.
Além disso, investidores seguem cautelosos quanto à tramitação no Congresso norte-americano do acordo para ampliar o teto da dívida.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 5,0423 reais na venda, com alta de 0,61%.
Na B3, às 17:14 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,45%, a 5,0435 reais.
A moeda norte-americana avançou frente ao real durante praticamente toda a sessão, repercutindo em parte os dados do Índice Geral de Preços–Mercado (IGP-M), divulgados pela manhã, antes da abertura do pregão.
O indicador registrou deflação de 1,84% em maio, após ter recuado 0,95% em abril. Foi a maior queda mensal na série histórica iniciada em 1989. Com o resultado de maio, o IGP-M passou a acumular em 12 meses recuo de 4,47%, contra queda de 2,17% em abril, também um recorde.
Diante do dado, o dólar iniciou sua escalada ante o real pouco depois da abertura, às 9h, em meio à percepção de que, com índices de preços mais baixos, o Banco Central (BC) terá espaço nos próximos meses para iniciar o ciclo de cortes da taxa básica Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Em contrapartida, no exterior a percepção era de que o Federal Reserve (Fed) caminha para manter os juros em patamares mais elevados por mais tempo, em função da inflação. Durante a tarde, os títulos norte-americanos precificavam 37,1% de probabilidade de o Fed manter a taxa básica na faixa de 5,00% a 5,25% ao ano em sua próxima reunião. Há 62,9% de chances de alta para 5,25% a 5,50%.
Na prática, o cenário que se desenha é de um diferencial de juros menor para o Brasil, o que torna o país menos atrativo aos investimentos externos.
“O IGP-M veio com deflação. A leitura do mercado é de que aqui começaremos a cortar juros e, nos EUA, eles devem subir”, pontuou Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora. “Isso diminui a arbitragem, você tem um carry trade menor”, acrescentou.
Na noite de segunda-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, alertou durante um evento que os núcleos de inflação no Brasil seguem “bastante altos”, mas pontuou que a média de núcleos está caindo. Ao mesmo tempo, segundo ele, o país entrou em uma “janela” em que a queda dos núcleos de inflação “provavelmente vai continuar”.
No fim da manhã desta terça-feira, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, defendeu o início dos cortes da Selic em agosto.
No início desta tarde, por volta de 13h10, o dólar acelerou ante o real e registrou a máxima de 5,0708 (+1,18%). Além de certa recuperação da moeda norte-americana no exterior, com os investidores atentos à votação sobre o teto da dívida no Congresso, o dólar foi influenciado no Brasil pela disputa pela Ptax do fim de maio, que será definida na quarta-feira, afirmou um operador à Reuters. Na sessão da véspera, a disputa pela taxa já havia dado força às cotações.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo BC com base nas cotações do mercado à vista e que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta do dólar) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).
No fim da tarde, o dólar se mantinha em leve baixa ante uma cesta de moedas, mas sustentava ganhos ante divisas como o real, a lira turca e o peso mexicano.
“A questão do teto da dívida nos EUA tem pressionado os mercados. Ainda há espera, expectativa em relação à tramitação”, pontuou Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Às 17:14 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– caía 0,23%, a 104,070.
No Brasil, pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de julho.