Já há algum tempo, qualquer tipo de manifestação em nosso País, seja de opinião, de posição política, vem sendo considerada ato antidemocrático, atentado contra a democracia, ou ataque a democracia por juízes do STF. Tudo pode ser enquadrado no inquérito dos atos antidemocráticos, aquele “do fim do mundo”, instaurado por quem se julga dono da democracia, dono de tudo.
O significado grego original para democracia é conhecido, mas os pilares que a sustentam foram sendo construídos conforme o avanço da sociedade, enquanto o nível de civilização em nosso País se desenvolvia até nossos dias.
As eleições livres e auditáveis, as liberdades individuais, o direito à propriedade, o estado democrático de direito, que assegura o direito de defesa ao cidadão, podem ser considerados as principais características democráticas, mas a liberdade de expressão é unanimidade entre todos os pilares que sustentam a democracia, pois a comunicação, a fala, é um bem divino e ancestral, criado antes mesmo da escrita, e ter uma imprensa livre para opinar e informar é fundamental para qualquer regime democrático.
Na idade média, antes da invenção da imprensa, havia os arautos, responsáveis por transmitir informações para a população, e isso era feito no grito, a plenos pulmões, para que todos tivessem conhecimento da informação.
O arauto era a imprensa oficial da época. Há mais de mil anos, portanto, a informação circulava aos gritos para conhecimento da população, até chegarmos a imprensa que conhecemos hoje foi um longo período. No entanto, estamos vivendo no Brasil, nesses dias, um período de censura, onde as informações, além de manipuladas, estão sendo proibidas justamente pelos supostos arautos e defensores da democracia, uma contradição sem explicações até para a psicanálise.
No Brasil de hoje há uma relação promíscua entre os poderes executivo e judiciário, que promovem um movimento de censura escancarado. Além de cessar a voz de figuras políticas de oposição, começam a investir contra veículos de imprensa, em um claro movimento que pode ser considerado, este sim, ato antidemocrático.
Sim, calar a voz do ser humano, proibir e censurar que veículos de imprensa exerçam seu trabalho é, inegavelmente, ato antidemocrático, e salta aos olhos de todos os brasileiros que isso está acontecendo sem o menor pudor. Pior, e curiosamente, os poderes executivo e judiciário estão usando a censura para a defesa da democracia.
As explicações estão muito além da razão.
Recente, ainda bem fresco na memória, saiu uma decisão cerceando, censurando previamente um grande veículo de imprensa de São Paulo, de publicar uma matéria que entrevistava um desafeto político do executivo e do judiciário, em especial de uma de Suas Excelências, reconhecidamente refratária a opiniões discordantes, mas que se autodenomina democrata.
Os arautos da informação estão sendo censurados pelos supostamente arautos e defensores da democracia.
É constrangedor.
A imprensa precisa ser livre para o exercício de sua função, e cabe a população decidir se deve ou não acreditar nas publicações.
A imprensa precisa ser livre, e figuras públicas que não querem ser criticadas, que não saiam de casa, que não entrem na vida pública, pois tem o livre arbítrio para decidir.
Aqui neste espaço defenderemos sempre a liberdade de imprensa.
Em tempo:
O veículo de comunicação de SP que foi censurado, defendeu claramente o governo durante a campanha eleitoral em 2022, e também o modelo atual, e agora está sendo vítima de suas próprias escolhas.
Talvez tenha chegado o momento de rever posições, e se comportarem, de fato, como arautos da democracia.
A democracia, a velha Senhora, está moribunda no Brasil, mas ainda pulsa, está viva, e ainda nos dá tempo de reestabelecer-lhe a saúde.
T&D