SÃO PAULO (Reuters) – A possível ocorrência do fenômeno climático El Niño não deve mudar a tendência de preços baixos de energia no mercado de curto prazo no Brasil, com expectativa de que eles permaneçam no piso regulatório após um período de chuvas bastante favorável que ajudou a recuperar os reservatórios das hidrelétricas, segundo análise da Nottus Meteorologia.
A empresa de inteligência meteorológica aponta que é praticamente certa a formação do El Niño nos próximos meses, fenômeno caracterizado pelo aquecimento da superfície equatorial do Oceano Pacífico e que tende a provocar no Brasil chuvas mais intensas na região Sul e mais escassas no Nordeste.
Ainda há dúvidas, porém, de quando esse fenômeno se consolidaria e qual seria sua intensidade, embora haja maior probabilidade de que ele seja fraco ou moderado, disse Desirée Brandt, meteorologista da Nottus, empresa recém-criada que recebeu aporte da Thymos Energia.
“Temos uma condição de preço (da energia) no piso, qualquer coisa que vier a acontecer dificilmente vai mexer com o preço”, afirmou Brandt.
O Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), referência para as operações de energia no mercado de curto prazo, tem permanecido em patamares baixos desde o ano passado, sendo negociado atualmente no piso de 69,04 reais por megawatt-hora (MWh).
Esse tendência reflete uma combinação de fatores, principalmente o período úmido favorável, que levou os reservatórios das hidrelétricas aos melhores níveis desde 2007. Também pesam na equação o baixo crescimento do consumo de energia e um cenário de sobreoferta de geração nos próximos anos.
Brandt aponta que os modelos preditivos já têm sinalizado a possibilidade de chuvas “anômalas” durante o período seco, especialmente entre agosto e outubro. Com isso, é possível que os reservatórios cheguem ao início do próximo período úmido mais cheios, prolongando a tendência de preços baixos da energia.
“Alguns clientes nossos acreditam que vai prolongar, e outros acham que esse cenário está dado já, que não vai fazer diferença”, comentou.
Alexandre Nascimento, sócio-diretor da Nottus, observa que o Brasil ainda pode enfrentar períodos ruins de chuva nos próximos anos, assim como vivenciado em 2021, quando uma crise hídrica quase levou a um racionamento de energia no país.
“A gente acredita que… entre 2025 e 2026 ainda possa ter algum susto climático negativo, com falta de chuva, isso baseado em estudos de longuíssimo prazo”.
Ele ponderou que isso não significa necessariamente uma nova crise para o setor elétrico, uma vez que o país criou um “colchão gigantesco” de alternativas, como a geração de usinas renováveis centralizadas, como eólicas, e a geração distribuída solar em residências.
MENOS NEGÓCIOS
A tendência de preços baixos tem reduzido o “trading” de energia no Brasil, já que as negociações costumam ser maiores quando há volatilidade de preços e espaço para ganhar dinheiro com essas apostas.
Dados do Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE) apontam queda de 30,2% do volume financeiro dos contratos de energia negociados por sua plataforma eletrônica, para 9 bilhões de reais entre janeiro e abril deste ano, contra 12,9 bilhões registrados em igual período de 2022.
Apesar disso, o volume de energia negociado no BBCE aumentou 26% no mesmo período, para 102.431,94 TWh, com os agentes buscando contratos com prazos mais longos, para entrega de energia em até sete anos, disse a plataforma.