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Por Antonio Perez
São Paulo, 17/02/2025 – Apesar do rali dos ativos domésticos na tarde da última sexta-feira, quando foi divulgada pesquisa Datafolha mostrando uma queda acentuada da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda é cedo para os investidores operarem de olho nas eleições presidenciais de 2026. A avaliação é da equipe de estrategistas de ações do JP Morgan para a América Latina e Brasil, liderado por Emy Shayo Cherman.
Os estrategistas do banco citam pelo menos três motivos que mostram ser prematuro investir em ações tendo como horizonte o calendário eleitoral. Em primeiro lugar, está o chamado “custo de oportunidade”, tendo em vista que, neste momento, aplicações em renda fixa entregam “retorno anual de 15% ou mais”.
Outro ponto é que a economia brasileira está desacelerando, em meio à inflação elevada e a um ciclo de aperto monetário ainda em andamento. “Desde 2008, nunca houve um ciclo de alta em que as ações tiveram um desempenho positivo, nem considerando o índice ou qualquer um dos setores”, afirma o time do JP Morgan.
Os estrategistas também ressaltam que “as coisas podem ficar complicadas” no campo das medidas econômicas. Eles lembram que em 2014 o governo adotou uma série de medidas heterodoxas para tentar aumentar a popularidade da ex-presidente Dilma Rousseff após os protestos populares de 2013, o que acabou resultando na reeleição da petista.
Esse quadro levanta um paradoxo, apontam os estrategistas. A eventual adoção de medidas populistas pode ser ruim para a economia, o que tem potencial para desencadear uma troca de governo. De outro lado, se o cenário atual, caracterizado com um arranjo econômico provisório, prevalecer nos próximos 20 meses, o País pode chegar ao segundo semestre de 2026 com inflação baixa, bom crescimento e real mais forte – pontos que podem favorecer a atual administração.
Segundo a equipe do JP Morgan, observando o histórico de eleições passadas, os investidores devem começar a considerar o impacto da corrida eleitoral nos preços seis meses antes da votação. Em geral, o mercado brasileiro tende a ter um desempenho inferior a de outros emergentes antes da eleição, mas uma performance bem superior no mês do pleito.
Fomo
Os estrategistas do banco ressaltam que as pesquisas recentes mostrando queda de popularidade de Lula levaram os investidores que não têm posições em Brasil (ou alocações modestas) a experimentar o chamado “medo de ficar de fora” (Fomo, na sigla em inglês). Afinal, um dos gatilhos para melhora dos ativos domésticos seria as eleições, ao lado de interrupção mais cedo do ciclo de aperto monetário e um Congresso amigável ao mercado.
“O Brasil é um dos mercados de melhor desempenho, tanto no lado das ações quanto no câmbio, levando os investidores a perseguir o momentum”, afirma o time do JP Morgan. “Quando os preços estavam mais baixos do que agora, não havia compradores, mas à medida que os preços subiam, mais pessoas se interessavam. E isso vem junto com notícias no cenário político, que é, como mencionado anteriormente, um dos pouquíssimos gatilhos locais”.