SÃO PAULO (Reuters) – A redução de quase 13% no preço do diesel da Petrobras, válida a partir desta quarta-feira, diminuiu a diferença entre o valor do produto brasileiro e o do combustível russo, que tem chegado em grandes volumes ao Brasil, segundo a agência Argus.
Mas não encerra no momento a maior competitividade do combustível importado da Rússia, que é mais barato que o nacional mesmo já considerando custos após desembarque, acrescentou especialista da consultoria que realiza levantamento de preços e outros serviços.
Com isso, as distribuidoras que compram da Petrobras –que abastece atualmente cerca de 80% do mercado nacional de diesel– sofrem forte concorrência daquelas que adquirem o produto russo, que respondeu por mais da metade das importações desse combustível do Brasil no mês passado.
As importações de diesel da Rússia encontraram mercado no Brasil e outros países da América Latina diante de embargos ao produto russo pela Europa, que antes da guerra da Ucrânia era importante compradora.
Dessa forma, o combustível chega mais barato até mesmo do que o produto da Petrobras, em um movimento mais acentuado desde abril.
“O preço da Petrobras fica mais próximo do valor russo (após o reajuste). Mesmo assim, segue acima…”, disse Amance Boutin, especialista de combustíveis da Argus.
Pelas contas da agência, o diesel S10 russo adquirido na véspera chegaria ao Brasil daqui a um mês a um valor de 2.665 reaios/m³ (entregue no porto). Considerando custos portuários e outros até Araucária (PR), por exemplo, o valor ficaria em 2.845 reais/m³, uma vez entregue lá.
Já o preço do produto da Petrobras, considerando o reajuste de 12,8%, foi estimado pela Argus em 3.042 reais/m³ em Araucária, onde a estatal opera uma refinaria com capacidade de processamento de mais de 200 mil barris/dia de petróleo.
O produto russo tem entrado principalmente via porto de Paranaguá (PR), colaborando para abastecer o mercado do Sul do país.
Segundo o levantamento da Argus, o diesel S10 russo tem ficado mais barato também que o produto dos Estados Unidos desembarcado no Brasil, com uma diferença de 0,33 real/litro.
Diante dessa competitividade, o diesel da Rússia tira os EUA como tradicionais maiores fornecedores do produto importado pelo Brasil, colaborando para pressionar os preços do combustível nos postos.
No caso das importações brasileiras de gasolina, a situação é diferente.
“A diferença de preço da gasolina russa é muito menor quando comparada com outras origens, então não tem entrado tanto nos fluxos de gasolina acabada. O desconto de preço não tem compensado o fator de risco atrelado à origem russa”, disse Boutin.
RAÍZEN AVALIA
As grandes distribuidoras, como Vibra Energia e Raízen, ainda não trouxeram o diesel russo, considerando riscos de se importar o produto da Rússia, que lida com sanções ocidentais.
Mas o Raízen “está olhando com muita atenção” a possibilidade, disse o diretor financeiro da Raízen, Carlos Moura, em entrevista à Reuters, na segunda-feira, antes do anúncio da redução da Petrobras.
“Essa avaliação estamos fazendo com muito cuidado, eu pessoalmente estou envolvido nela.”
Segundo ele, por conta das sanções ocidentais à Rússia –não do Brasil–, existe toda uma regulação para adquirir o produto russo, embora não seja ilegal.
“É decisão que envolve o risco transacional, quem são as contrapartes, quem está fazendo afretamento no navio, o tipo de trading e tem um risco de imagem”, acrescentou o executivo da Raízen, uma joint venture da Cosan com a multinacional europeia Shell.
Ele lembrou que cerca de 55% do diesel importado veio da Rússia em abril, em um mercado que tem 80% do total sendo suprido pela Petrobras, e o restante importado.
Moura disse ainda que a Raízen avalia os riscos “para tomar a melhor decisão, até porque o mercado está afetado por isso e por outros que não têm a mesma preocupação”.
Em geral, distribuidoras e importadores menores têm feito as importações do produto russo, cujo custo de produção também é mais baixo.
Em teleconferência de resultados nesta semana, a Vibra Energia afirmou que considera que o efeito de maiores importações de diesel russo está restrito a algumas regiões do país, e ainda não tomou decisão de buscar o combustível na Rússia.
Combustíveis seguirão em queda nos postos após anúncio da Petrobras, diz ValeCard
SÃO PAULO (Reuters) – Os preços da gasolina e diesel, que tinham registrado uma baixa na segunda semana de maio, devem seguir pressionados nos postos após a redução anunciada para quarta-feira pela Petrobras, avaliou um especialista da ValeCard, empresa que realiza levantamento de cotações de combustíveis com base em transações em mais de 25 mil estabelecimentos.
O preço da gasolina vendida nas refinarias da Petrobras a partir de quarta-feira será reduzido em 0,40 real o litro, ou 12,6%, e o diesel terá um corte de 0,44 real o litro, ou quase 13%, informou na estatal.
Já o prazo dos repasses de preço da Petrobras pelas distribuidoras e postos é mais difícil de se prever, afirmou Brendon Rodrigues, Head de inovação e portfólio na ValeCard, empresa especializada em soluções de gestão de frotas.
“A questão de prazo é meramente especulativo. Quando tem aumento de preço, acontece basicamente instantaneamente (o repasse). Quando é redução de preço, existe uma questão de diminuição de estoque, aquisição de estoque… estima-se que leva-se até 15 dias para ter reflexo nas bombas”, disse ele à Reuters.
“O impacto não será imediato, pois os distribuidores já adquiriram combustível com o preço anterior. Logo, a nova política de preços serve para futuras compras. A partir daí observaremos o impacto nos preços da gasolina e diesel nos postos”, disse.
Ele afirmou ainda que normalmente tem alguma apropriação de valores de custos e fretes na cadeia de distribuição, então é possível que o repasse das reduções da Petrobras não chegue integralmente aos consumidores.
Segundo levantamento da ValeCard, os preços de combustíveis tiveram reduções na segunda semana de maio em relação à semana anterior. A gasolina caiu 0,72%, o etanol hidratado 1,7% e diesel 2,72%.
Mudança de preço da Petrobras deve aumentar diferença de valor entre etanol e açúcar
(Reuters) – A mudança de preço dos combustíveis pela Petrobras provavelmente aumentará a diferença de cotações entre o etanol e o açúcar para o nível mais alto em 12 anos, disseram analistas e corretores na quarta-feira.
A mudança de política de preços da Petrobras anunciada na terça-feira, no entanto, não terá impacto na estratégia de produção dos produtores brasileiros de açúcar e etanol, que iniciam uma nova temporada, pois já planejam produzir o máximo de açúcar possível e, consequentemente, menos etanol, disseram os especialistas.
“As usinas já estão no máximo. Elas não podem ir além do máximo”, disse um corretor de açúcar dos EUA, referindo-se à intenção das usinas de usar o máximo de cana-de-açúcar deste ano para produzir açúcar, já que o preço do adoçante paira em torno dos níveis mais altos em 11 anos.
As usinas brasileiras têm relativa flexibilidade para transferir a cana para a produção de açúcar ou etanol, dependendo dos preços de mercado.
A corretora e fornecedora de serviços da cadeia de suprimentos Czarnikow disse na quarta-feira que a diferença entre os preços do açúcar e do etanol hidratado para as usinas brasileiras atingiu o equivalente a 11,34 centavos de dólar por libra, a maior desde 2011.
O novo sistema de preços da Petrobras elimina a chamada política de paridade de importação de combustível que alinhava mais os valores com o mercado de petróleo e a taxa de câmbio.
A Petrobras também disse que reduzirá os preços da gasolina em mais de 12% a partir de quarta-feira, o que reduzirá ainda mais os preços do etanol.
“É claro que esse corte reduzirá ainda mais a atratividade do etanol para as usinas, mas os preços da energia já estavam caindo, o que era esperado”, disse Willian Orzari, sócio da consultoria de açúcar e etanol FG/A.
Os contratos futuros de açúcar em Nova York perderam algum impulso após a notícia da Petrobras, embora os corretores divergissem sobre o motivo.
“Não teve impacto imediato nos preços do açúcar, já que a paridade do etanol permanece bem abaixo dos preços atuais do açúcar”, disse um corretor europeu.
O corretor dos EUA acredita que houve algum impacto, afirmando que uma parte dos especuladores que estavam sustentando o mercado na terça-feira decidiu vender posições após a notícia.
Haddad indica que Petrobras fará nova redução de preços em julho para compensar tributação
(Reuters) -O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quarta-feira que o governo está “recalibrando” com a Petrobras a reoneração dos combustíveis para evitar impactos sobre os preços nas bombas, sugerindo que a estatal vai promover nova redução de preços em julho para compensar o aumento da taxação.
“O aumento previsto para 1º de julho vai ser absorvido pela queda do preço que foi deixada para esse dia”, disse Haddad em audiência em comissões na Câmara dos Deputados.
“Nós não baixamos tudo que podíamos justamente esperando o 1º de julho, quando acaba o imposto de exportação e acaba o ciclo de reoneração”, acrescentou o ministro, em referência ao corte de preços anunciado pela Petrobras esta semana.
A Petrobras não respondeu de imediato a um pedido de comentário.
O governo editou em fevereiro medida provisória estabelecendo uma reoneração parcial de gasolina e etanol por um prazo de quatro meses, associada a uma taxação das exportações de petróleo pelo mesmo período, em movimento para recuperar cerca de 29 bilhões de reais de arrecadação neste ano.
A reoneração se deu após o governo anterior, do presidente Jair Bolsonaro, ter reduzido temporariamente a taxação dos combustíveis em uma tentativa de conter a inflação no ano eleitoral. A MP do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda tramita no Congresso, prevê que, ao fim do prazo de quatro meses, gasolina, etanol, querosene de aviação e GNV serão reonerados integralmente.
Na terça-feira, a Petrobras anunciou um corte nos preços de gasolina, diesel e gás liquefeito de petróleo (GLP) vendidos às distribuidoras a partir desta quarta como resultado de uma reformulação em sua estratégia comercial, que deixará de seguir a paridade de preços de importação.
O preço da gasolina vendida nas refinarias da Petrobras foi reduzida em 0,40 real o litro, ou 12,6%, e o diesel teve um corte de 0,44 real o litro, ou quase 13%. Já o GLP, o chamado gás de cozinha, foi reduzido em 8,97 reais por botijão de 13kg, o equivalente a um corte de 21,39%.
Haddad indicou que o corte poderia ter sido maior, mas o governo optou por manter uma margem para ser usada no momento de alta da tributação.
“E como vai acontecer com o diesel no final do ano, já deixou uma gordura para acomodar a reoneração”, disse Haddad.
Produção de petróleo e gás do Brasil cai 12,1% em abril vs março, aponta ANP
SÃO PAULO (Reuters) – A produção de petróleo e gás do Brasil teve queda de 12,1% em abril em relação a março, para 3,5 milhões de barris de óleo equivalente por dia, de acordo com dados preliminares publicados no site da agência reguladora do setor, a ANP.
Considerando a produção exclusiva de petróleo, o país marcou redução de 13,48% em abril na comparação com o mês anterior, para 2,695 milhões de barris/dia, disse a agência, ressaltando que os números preliminares estão sujeitos a atualizações ou complemento pelas empresas.
O total produzido, incluindo gás, também recuou na comparação anual. Em abril de 2022, o país havia produzido 3,86 milhões de barris de óleo equivalente ao dia.
O Brasil registrou um recorde mensal de produção de petróleo e gás em fevereiro, acima de 4,18 milhões de barris de óleo equivalente ao dia.