(OGLOBO) – O comércio da China está sob pressão com a queda dos embarques estrangeiros e demanda doméstica ainda fraca, enquanto um cenário de desaceleração do crescimento global e tensões geopolíticas tornam improvável um alívio em breve.
Em junho, as exportações do país encolheram 12,4% em dólar na comparação com o ano anterior, informou a administração alfandegária na quinta-feira. Esse foi o segundo mês seguido de queda, que foi a maior desde a chegada da pandemia no início de 2020. As importações caíram 6,8%, mostraram os dados da alfândega.
Com esses números, a China teve superávit comercial de US$ 70,6 bilhões no mês. Economistas previam que as exportações cairiam 10%, com baixa de 4,1% para as importações.
A demanda global havia sido um forte impulsionador do crescimento da China nos últimos três anos, embora essa tendência tenha começado a se enfraquecer no final de 2022. As exportações recuaram em quatro dos seis meses em 2023.
À medida que o crescimento global se desacelera e muitos bancos centrais ainda se mostram dispostos a elevar os juros para reduzir a inflação, parece cada vez mais improvável que a demanda internacional por produtos chineses seja capaz de ajudar a segunda maior economia do mundo à medida que sua recuperação perde força.
“Vemos pouco alívio para as exportações da China no segundo semestre, já que os EUA provavelmente entrarão em uma recessão leve, enquanto a economia da zona do euro deve permanecer fraca”, escreveu em nota Duncan Wrigley, economista-chefe para a China da Pantheon Macroeconomics, após a divulgação dos dados.
“O risco de uma escalada da guerra comercial de tecnologia com os EUA não pode ser descartado”, disse Wrigley. Ele observou que as restrições de exportação impostas pelo governo de Pequim para o gálio e o germânio, que são usados nas indústrias de semicondutores e veículos elétricos, entrarão em vigor a partir do próximo mês.
A menor demanda por produtos exportados foi generalizada. As exportações para os EUA caíram quase 24%, no 11º mês consecutivo de baixa e o pior resultado desde a queda no início da pandemia.
Os embarques para a Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), Coreia do Sul, Japão, Taiwan, Alemanha, Itália, Reino Unido, Países Baixos e Canadá caíram dois dígitos, e as vendas para a França também diminuíram.
“As incertezas externas estão aumentando, enquanto o fraco momentum da economia global e o cenário de desaceleração do crescimento ainda não mostram melhoras”, disse Bruce Pang, economista-chefe e diretor de estratégia para a Grande China da Jones Lang LaSalle.
“O impacto da liberação de encomendas anteriores reprimidas basicamente desapareceu”, embora as exportações de bens como carros elétricos e baterias continuem melhorando, disse.
Isso deixa o comércio do país cada vez mais desequilibrado, com o superávit nos primeiros seis meses em nível recorde para esse período, segundo dados rastreados desde o fim da década de 1990.
“O enfraquecimento da demanda externa continua a impactar o comércio da China”, disse Lyu Daliang, porta-voz da Administração Geral de Alfândegas. “A recuperação da economia global não tem um ‘driver’. O comércio e o investimento globais estão diminuindo, enquanto o unilateralismo, o protecionismo e os riscos geopolíticos estão aumentando.”
O governo busca reforçar o estímulo para apoiar o crescimento doméstico – e a trajetória da demanda global até o final do ano será um fator importante para a China determinar quanta ajuda é necessária.
“Considerando o comércio e outros dados, vemos uma chance razoável de estímulo medido”, disse Ding Shuang, economista-chefe para a Grande China e Norte da Ásia no Standard Chartered. Ele espera que as importações superem as exportações no segundo semestre do ano, com uma recuperação doméstica moderada, e que os preços das commodities não afetem tanto o desempenho.